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Alfabetização Azul
Miguel Marques Partner da Skipper & Wool
24/06/2024

Alfabetização Azul
Ao processo de aprendizagem concebido com o objetivo de que seres humanos aprendam a ler e a escrever, chama-se Alfabetização. Para além de ser fundamental para comunicar com as pessoas que nos rodeiam, a alfabetização é importante para que cada indivíduo encontre o seu caminho, a sua autonomia, a sua identidade e a sua independência. Ou seja, pessoas não alfabetizadas terão maior dificuldade em serem independentes e em terem sucesso pessoal e profissional, ao longo da vida. Da mesma forma, países com baixas taxas de alfabetização tendem a ser eternamente subdesenvolvidos e dependentes de terceiros.
A UNESCO (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), defende que a alfabetização é um processo para a aquisição de habilidades cognitivas básicas cruciais para a consciencialização e para a reflexão crítica das pessoas e da sociedade, essenciais ao desenvolvimento sustentável. Assim, uma pessoa alfabetizada, não é apenas uma pessoa que sabe ler e escrever, é também uma pessoa que adquiriu um conjunto de habilidades cognitivas básicas cruciais para a consciencialização e para a reflexão crítica, fundamentais para se desenvolver e contribuir para o desenvolvimento da sociedade.
Não sendo um especialista do ensino da leitura e da escrita, reconheço que muito se progrediu, no mundo ocidental, no sentido de se reduzir significativamente o número de pessoas que não sabem ler nem escrever. No entanto, preocupam-me a drástica redução do gosto pela leitura de livros e o aparente relaxe na capacidade crítica do que se lê no mundo virtual. Talvez estas preocupações possam servir de pistas para o aprimorar dos processos futuros de alfabetização, num mundo com excesso de informação verdadeira e falsa.
Como alguém que estuda permanentemente a relação do ser humano com o mar, agrada-me muito imaginar a alfabetização aplicada ao mar, como um processo para a aquisição de um conjunto de habilidades cognitivas básicas, cruciais para a consciencialização e para a reflexão crítica, e que seja capaz de impulsionar o desenvolvimento sustentável.
Pensar na alfabetização azul como um processo imprescindível para se poder comunicar eficazmente e de forma consequente os temas de mar, para se conseguir interpretar e observar criticamente as oportunidades que existem, para se poder ser independente e autónomo na construção de caminhos de desenvolvimento azul, parece-me vital para o sucesso futuro de Portugal.
Não conheço nenhum estudo que se tenha debruçado sobre qual é o nível médio de habilidades cognitivas básicas cruciais para a consciencialização e para a reflexão crítica capaz de se desenvolver e contribuir para o desenvolvimento da sociedade através do mar, em Portugal. Ou seja, um estudo sobre o nível médio de alfabetização azul existente em Portugal, neste momento. Também não conheço nenhum estudo sobre quais devem ser as habilidades cognitivas básicas padrão para se poder medir o nível de alfabetização azul.
Parece evidente que somos uma nação peninsular e insular, com uma enorme responsabilidade e oportunidade no atlântico. Todas as “Geografias” assim o afirmam e dão uma grande centralidade marítima a Portugal. As “Geografias” do espaço, do mar (Oceanografia), do tempo (História Marítima), dos ecossistemas marinhos (Biologia Marinha) e muitas outras, convergem para a importância “Geográfica” estratégica de Portugal no mundo azul. Ou seja, de uma certa forma, a “Geografia” mergulha permanentemente Portugal no mar, quer se queira, quer não se queira. É uma inevitabilidade, que infelizmente, ao longo da nossa história, nem sempre foi entendida por todos os líderes portugueses.
Os líderes que quiseram nadar contra a inevitável corrente da “Geografia” portuguesa, falharam e, os que souberam nadar a favor da corrente, venceram. No entanto, por alguma razão que não se consegue entender, muitos de nós parecem ignorar esta realidade. Resta, aos que conseguem ver, o que está a frente dos olhos de todos, continuar a trabalhar, pois a força da corrente gerada pela “Geografia” de Portugal, mais cedo ou mais tarde, vai sempre recentrar-nos na inevitabilidade de desenvolvermos as oportunidades azuis.
Assim, torna-se importante, não só desenvolver todos os excelentes processos de literacia azul já em curso, todas as excelentes iniciativas que promovem a cultura marítima, todos os cursos profissionais, médios, licenciaturas, cursos de especialização, mestrados com aplicabilidade na relação do ser humano com o mar, os lagos e os rios, mas também refletir sobre quais devem ser as habilidades cognitivas básicas padrão, a disponibilizar a cada um dos nossos concidadãos, para se poder medir o nível de alfabetização azul e, evitar que no futuro, muitos de nós, não consigam ver, o que está à frente dos olhos de todos. Penso que estamos numa fase de progressão nas matérias do mar, que nos permite chegar a um padrão inicial, que certamente terá evoluções futuras, mas que será muito importante para medir o progresso, ou identificar se estamos a andar em círculos que dão uma volta de 360º trazendo-nos sempre ao lugar de partida, impedindo que saltemos de patamar, em cada iteração que implementamos.
Talvez parte do padrão, para aferir o nível médio de alfabetização azul, contenha aspetos básicos relacionados com saberes empíricos relacionados com a hidrografia/oceanografia, como correntes, marés, ondas, ou relacionados com a biologia marinha, como espécies de peixes, de algas, ou relacionados com a sociedade e a economia, profissões do mar, lotas de vendas de pescado, ou de atividade física na água, como saber nadar e ou velejar, surfar… entre muitos outros aspetos básicos, sem obviamente esquecer o nível de hábitos de leitura e escrita sobre temas do mar e interpretação crítica desses mesmos textos, juntando assim a alfabetização azul à necessidade de reforçar a alfabetização geral, num contexto de um mundo cada vez mais complexo no que respeita à informação disponível…
Autor: Miguel Marques Partner da Skipper & Wool