A Confraria Marítima – Liga Naval Portuguesa no V Congresso Marítimo Nacional (Espanha)

Compreendendo a relevância incontornável para Portugal da gigante economia azul do país vizinho, a Confraria Marítima de Portugal – Liga Naval Portuguesa (CMP-LNP) marcou presença no V Congreso Marítimo Nacional, organizado pela Real Liga Naval Espanhola (RNLE) e pelo Cluster Marítimo Espanhol, procurando conhecer melhor a realidade espanhola nas diferentes vertentes do setor e estabelecer contactos institucionais com as entidades presentes.

Entre os dias 8 e 9 de fevereiro, vários atores públicos e privados do setor marítimo espanhol reuniram na Real Casa de Correos, sede da Presidência da Comunidade de Madrid, uma das regiões autónomas de Espanha, para debater e divulgar um setor cuja importância é muito pouco conhecida da sociedade espanhola, e, também, para avaliar a situação atual e pensar o futuro mais imediato.

O V Congresso teve por objetivo proporcionar uma visão global do setor marítimo espanhol e suas principais novidades, abordar desafios e oportunidades no setor marítimo e destacar o seu papel como motor do crescimento económico de Espanha, e elaborar um “Caderno de Conclusões do Congresso” a ser enviado ao Governo, aos partidos políticos, à imprensa e às associações marítimas.

Os trabalhos foram inaugurados pelo AJEMA (CEMA da Armada Espanhola) Almirante Antonio Martorell, pelo presidente do Cluster Marítimo Espanhol, Sr. Alejandro Aznar Sainz, e pelo presidente da Real Liga Naval Espanhola, Prof. Dr. Juan Díaz Cano.

O Congresso foi organizado em 12 mesas-redondas* abordando os seguintes temas:

1. Rumo a uma Marinha renovada
2. O setor pesqueiro espanhol em Bruxelas
3. Os portos do futuro
4. A proteção do património subaquático espanhol
5. Realidade dos Estaleiros Navais e indústrias auxiliares espanholas
6. Combustíveis azuis
7. Eólica offshore flutuante
8. Formação Marítima
9. A náutica de recreio e sua sustentabilidade
10. Papel das Ligas Navais no setor marítimo
11. A Marinha Mercante pós-Covid 19
12. Comunicação e economia azul

O Congresso incluiu ainda uma muito interessante conferência sobre a figura de “Jorge Juan, no 250º aniversário da sua morte e a medição do arco meridiano”, pelos Almirante (ref) José Maria Treviño, diretor cultural da RNLE, e Capitán-de-navio Marcelino Gonzalez, vice-presidente da RNLE.

Na discussão sobre o papel das Ligas Navais no setor marítimo, foram abordados temas como o financiamento, onde foi evidenciada a importância da independência das ligas face aos poderes públicos e privados, o seu papel como aliado estratégico dos interesses marítimos, e a sua participação, pelo conhecimento dos seus membros, no apoio à atividade legislativa sobre os assuntos do mar.

Da nossa parte, perante o conhecimento que temos sobre a dimensão da Armada Espanhola, dos portos espanhóis e da indústria de construção naval e pesqueira de nuestros hermanos, foi com surpresa que testemunhámos a opinião comum dos vários intervenientes sobre a sentida necessidade de “voltar a Espanha para o mar, de dar maior visibilidade ao setor marítimo, e de criar uma maior consciência marítima que sirva como elemento dinamizador da Economia”. Mas a realidade é que, tal como nós portugueses sentimos o trauma da grande tragédia de Alcácer-Quibir, que marcou o princípio do nosso declínio como potência marítima, os espanhóis guardam a memória do “Desastre de 98”, ou a derrota na guerra hispano-americana de 1898, que decidiu o fim do império marítimo espanhol. Um evento histórico, referido em várias oportunidades, que assinalou o momento em que a Espanha terá “voltado as costas para o Mar”, e do qual sentem que ainda lhes falta recuperar.

No entanto, a nós portugueses, o Congreso Marítimo Nacional provou-nos o enorme dinamismo da economia azul espanhola, tanto pela ambição no reequipamento da sua Armada, com vários grandes programas de construção naval em concretização, como pela competitividade da suas indústrias portuária, pesqueira e de construção naval, onde se evidencia, para além da construção naval militar, com vários exemplos de sucesso no mercado internacional, o desenvolvimento de projetos de produção de energia eólica offshore flutuante. Infelizmente, sentimos ao longo do Congresso a falta dum importante componente da atividade marítima, o Salvamento Marítimo, que surpreendentemente não foi incluído.

Ainda durante a conferência, numa breve e singela cerimónia, tivemos oportunidade de agradecer o convite e facilidades proporcionadas pela nossa congénere espanhola, ofertando uma placa com as insígnias da Confraria Marítima de Portugal, e a seguinte legenda:

 “À REAL LIGA NAVAL ESPAÑOLA – V CONGRESO MARÍTIMO NACIONAL – Madrid, 8 e 9 FEV 2023”

Foi igualmente ofertado à biblioteca da Real Liga Naval Española, um exemplar da obra “História da Liga Naval Portuguesa (1900-2020), da autoria do nosso ilustre confrade Contra-almirante Fernando David e Silva.

O presidente da direção, Contra-almirante António Bossa Dionísio, fez diversas intervenções colocando questões, tais como sobre o papel das Ligas Navais no desenvolvimento da consciência marítima das nações, ou sobre interesse da comunicação social sobre os assuntos do mar.

Terminado o congresso, a delegação da Confraria Marítima de Portugal – Liga Naval Portuguesa foi recebida na sede da RLNE, onde nos foi proporcionada uma visita completa às instalações. Nessa ocasião, e aproveitando um brinde em honra da nossa presença, o presidente da CMP-LNP aproveitou para agradecer ao presidente da RLNE ter proporcionado aos nossos confrades exatamente as mesmas vantagens que aos seus associados, nomeadamente nos descontos para inscrição neste evento.

* as mesas redondas podem ser vistas neste link: https://www.youtube.com/@REALLIGANAVALESPANOLA/videos