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O Surf Português está de Parabéns

Carlos da Graça Vieira, Pioneiro do Surf em Portugal, Confrade da CMP-LNP

08/09/2025

O chamado Turismo Azul, elemento de relevo do Turismo em Portugal, divide-se em três componentes. Turismo náutico, associado à marinha de recreio que providencia vários tipos de actividades; turismo marítimo ligado aos cruzeiros que demandam os portos portugueses e o turismo costeiro que explora o litoral do país, suas praias, fauna marinha e o, tão em moda, surf.

Segundo o recente relatório de monitorização do Observatório da Economia Azul, o “sector marítimo cresceu, com o valor acrescentado bruto (VAB) a representar 3,5% do PIB em 2022”, ou seja, um valor aproximado de 3,3 mil milhões de euros.

Ligado a este elemento do Turismo Azul decorreu o primeiro campeonato internacional OC4 Surfing Challenge, de 21 a 28 de março de 2025, em organização do Ocean Club da Ericeira, Laneez Surf House e sob a direção e também concorrente Miguel Ruivo, nome de referência no surf nacional.

Competição efectuada com modernas canoas havaianas equilibradas por um flutuador lateral, à semelhança de muitas embarcações utilizadas nos arquipélagos do Oceano Pacífico. São de construção moderna em fibra de vidro e resina polyester, movidas e governadas pelas pagaias dos seus quatro tripulantes. A prova consiste em “surfar” ondas, tal como numa competição de surf, sendo a classificação atribuída pela qualidade e tamanho destas, pelas manobras ou figuras efectuadas, mais ou menos ginasticadas, que os atletas executam enquanto deslizam na onda. Um extra em relação às provas de surf.
Participaram dez equipes representando Portugal, Espanha, França, Brasil, USA e o estado/arquipélago do Havai, tendo algumas equipes uma longa experiência, como os Havaianos, outras a iniciarem-se na modalidade. Sendo as canoas de tamanho e peso razoáveis, de difícil e oneroso transporte, estas foram disponibilizadas pela organização, com excepção das equipes europeias que trouxeram o próprio equipamento por estrada.

Foram assim utilizadas as das equipes portuguesas assim como a da equipe francesa WOO, elemento importante na organização do evento e também fabricante de canoas e que as trouxe expressamente.

Uma vez as equipes constituídas por tripulantes e seus apoios, reunidas, juntou-se um heterogéneo grupo de atletas, de ambos os sexos e de um grupo etário muito mais abrangente do que o habitualmente envolvido em provas de surf. Excelente camaradagem e ambiente festivo em terra, renhida competição no mar.

O palco do campeonato foi a Reserva Mundial de Surf na Ericeira, com o seu fundo rochoso e praias com longas ondas proporcionando condições propicias. As provas iniciaram-se na Praia do Sul da Ericeira tendo terminado na Praia de Ribeira d´Ilhas, esta considerada a “catedral” do surf português. Foi grande o entusiasmo dos concorrentes estrangeiros pelo acolhimento, a maioria nunca pisara o nosso país, não só pelas condições do mar/ondulação como pela lusa hospitalidade e atrativos locais. Não é por acaso que a Reserva da Ericeira é, justamente, considerada uma “pérola” no cenário do surf europeu.

“Surfar” uma onda numa embarcação com um flutuador lateral, na prática um duplo casco, torna-se muito mais complicado do que numa prancha de surf. Quando a canoa se atravessa na onda e se vira “up side down”, o que por vezes acontece, não é fácil voltar a colocá-la na posição correcta com o flutuador a dificultar a manobra.

Cada tripulante é munido de uma pagaia para impulsionar a canoa tendo o timoneiro, na ré, uma de maior pá/dimensão que actua como leme ao correr a parede da onda. A distância percorrida assim como as manobras, como descer e subir a face da onda, por exemplo, contam na pontuação, acrescentando-se as figuras acrobáticas efectuadas pelos tripulantes, que podem ser variadas.

Um dos tripulantes pode mover-se para o flutuador ou colocado na proa praticar um ginasticado pino, o que não é tarefa fácil atendendo que a canoa desliza na onda a velocidade elevada. No decorrer da prova houve variado tipos de exibições, resultantes da experiência dos concorrentes, muitas vezes as equipes mais equilibradas somando pontuações semelhantes. Na classificação final os havaianos foram os vencedores, seguidos pelos brasileiros baianos e os portugueses a “jogar em casa”.

Campeonato terminado, prémios distribuídos e equipes felizes com o desenrolar do evento, o primeiro realizado a nível internacional, ficando já agendado o próximo para 2026.

Estabelecido que serão duas provas, a primeira a realizar-se no Havai na Primavera, a segunda de novo em Portugal no Outono.
Fica nos anais desta modalidade que a primeira prova internacional se realizou em mar português sendo este não só o melhor destino europeu para a prática de surf, como também lugar de relevo mundial com as únicas ondas do canhão da Nazaré, as maiores ondas desde sempre “surfadas” e onde anualmente se realiza uma competição de ondas gigantes.

O Surf Português está de parabéns.

Autor: Carlos da Graça Vieira, Pioneiro do Surf em Portugal, Confrade da CMP-LNP