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O Mar – Oportunidade ou Ilusão?

Dr. Jorge Manuel Agostinho Robalo, Antigo Oficial da Reserva Naval

26/01/2024

Mar

O Mar!

De herói no passado, a promessa no futuro.

Tal como no passado, sempre associámos o Mar a oportunidades, riquezas, ilusões, frustrações e muito trabalho. E assim tem sido ao longo dos séculos. Um Mar de trabalho em que a recompensa vem sempre de mão dada com a amargura do sofrimento.

A História diz-nos que o Mar pode conduzir-nos a um baú cheio de oportunidades.

No passado, levou-nos a inovar tecnologicamente, permitiu-nos conhecer mais sobre o mundo, descobrir novas terras, outros povos, outras culturas e explorar novas riquezas. Permitiu-nos expandir o nosso território terrestre, para além das fronteiras naturais de Portugal.

Culturalmente, desde o início, da Era dos Descobrimentos, construímos uma identidade marítima muito forte que nos caracterizou durante muitos anos como sendo um povo aventureiro, destemido e com uma forte cultura marítima.

No entanto, tudo isto não teria sido possível sem um forte compromisso político e financeiro do reino e de alguns comerciantes, nomeadamente mercadores.

Em resumo, fizemos história e desenvolvemos, durante séculos, uma cultura marítima forte que nos permitiu entrar, por direito, para a História Mundial.

Avançando no tempo, até ao presente, emerge a questão de saber o que significa, o Mar, para nós. Não só para os portugueses, como também para o país.

Após quase um século, de costas voltadas para o Mar, no final do século XX, Portugal vem de novo declarar ao mundo a importância que este pode ter no desenvolvimento económico do País. Com o alto patrocínio do Estado Português, Portugal candidata-se à realização da exposição mundial de 1998 sobe o Lema “Os oceanos: um património para o futuro”.

Esta declaração, passados 25 anos, continua na memória dos portugueses e de todos aqueles que tiveram a oportunidade de a desfrutar.

Ela veio reavivar, na nossa memória, a gloriosa época dos Descobrimentos e proclamar o Mar como recurso critico para o crescimento económico do país. Claro está que, sem um plano estratégico associado, não passou de uma mera declaração de intenções patrocinada pelo Estado Português, o que, a nível político é a garantia inicial do comprometimento institucional.

Muitas outras iniciativas surgiram no intuito de potenciar e ajudar a que a declaração de intenções se transformasse em algo real e concreto. Destas, e sem querer menosprezar nenhuma, existem duas com um impacto significativo.

A primeira, oriunda da sociedade civil, liderada por dois visionários que, para além de uma forte amizade, partilhavam uma grande paixão por Portugal e pelo Mar. Foram eles o Almirante Nuno Vieira Matias e o Professor Doutor Ernani Lopes que, juntos, lideraram vários trabalhos, dos quais se destacam as Jornadas do Mar e o relatório do Hypercluster da Economia do Mar publicado pela SAER (2009).

A segunda grande iniciativa, esta com o mais alto patrocínio do Estado Português, originou a apresentação da proposta nacional para a extensão da plataforma continental, na Organização das Nações Unidas, em 2009.

O objetivo da primeira iniciativa, foi de ressalvar a importância de ser definida uma estratégia nacional de desenvolvimento integrado do Cluster do Mar. Por sua vez, a extensão da plataforma continental procura, criar o proclamado património futuro, reforçando a declaração de 1998.

No entanto, passados 25 anos, continuamos privados de uma estratégia nacional para a economia do Mar.

E a pergunta fica no ar. Porquê?

Claramente por falta de vontade política em dar seguimento às recomendações, salvaguardando os devidos ajustes contextuais, sugeridas no relatório do Hypercluster da Economia do Mar. E porquê? Não sendo por falta de conhecimento para o fazer, nem de meios para tal, parece que só resta a vontade de o fazer, vulgarmente associado a prioridades.

O que, no minimo, é estranho. Possivelmente, não tanto assim. O que se pode assegurar é que este é um tema que não produz grande retorno de curto-prazo, em nenhuma das perspetivas de análise. Mas esta realidade, não pode impedir que o Estado não dê prioridade máxima à identificação de uma estratégia integrada da Economia do Mar. Estratégia essa que tem de ser transparente para todos os intervenientes, incluir orientações estratégicas globais e sectoriais claras e acompanhadas de objetivos. E que contemple, também, um modelo de apoio às empresas que contribuem para a sua implementação e assim para o desenvolvimento económico do país.

Infelizmente, o Estado continua a privar-nos desta estratégia, hipotecando, cada vez mais, o desenvolvimento económico do país.

E agora? O que fazer?

Ajudar.

Ajudar!

E o Estado quer esta ajuda? Numa perspetiva positiva, e seguindo um ditado português, toda a ajuda é bem-vinda.

Ora bem, e, nós queremos contribuir?

Trabalhando voluntariamente, gratuitamente, para mostrar ao Estado, e aos restantes intervenientes políticos, a importância de ser definida uma estratégia integrada da Economia do Mar.

Tal como muitos voluntários trabalharam para implementar, entre 2005 e 2007, as Jornadas do Mar, é hora de nos voluntariarmos para retomar o tema e ajudar o país. É importante comunicar de forma transparente, ajudar a desmistificar o intervalo entre o que um dia poderá vir a ser e o que podemos começar, identificar a ausência de orientações estratégicas e de objetivos.

O desafio é grande, mas o contributo pode ser muito significativo para o desenvolvimento de uma estratégia nacional integrada da Economia do Mar que tenha por objetivo a valorização e rentabilização sustentada do Mar português.

O repto fica.

Junte-se a nós, escrevendo para geral@confraria-liganaval.pt

Autor: Dr. Jorge Manuel Agostinho Robalo, Antigo Oficial da Reserva Naval