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O Mar
Prof. Dra. Guilhermina Rego
01/12/2020
O mar como opção estratégica. Como opção estratégica porque o mar foi o nosso passado, mas é também o presente e o futuro.
Foi o nosso passado porque Portugal deu “novos mundos ao mundo” precisamente através do mar, dos oceanos, com enormes repercussões no desenvolvimento económico nacional, e europeu. Pelas relações comerciais entretanto estabelecidas, mas, também, pela inovação que foi necessário introduzir para conseguir alargar os nossos horizontes. Inovação nas ciências exatas como a matemática, ou nas ciências aplicadas como a engenharia naval.
E foi esta complexa simbiose que, através do mar, permitiu construir o universo da lusofonia e assim alcançar e desenvolver territórios tão longínquos nas Américas, em África ou mesmo na Ásia. E permitiu também criar uma cultura muito própria em torno da Língua Portuguesa, porque afinal a nossa língua é a nossa pátria.
É também o presente porque é através do mar que grande parte da produção industrial Portuguesa é exportada, sendo os portos estruturas absolutamente essenciais para que os nossos produtos possam alcançar virtualmente todos os cantos do planeta. Mas os portos são também recetores de bens produzidos noutros países, sendo assim a interface mais visível da globalização económica moderna. Note-se que a vasta maioria das trocas comerciais mundiais se desenrolam atualmente por via marítima.
E é o futuro porque para além da economia tradicional abre-se toda uma nova visão de economia do mar, desde logo porque o alargamento da plataforma continental torna Portugal num país marítimo imenso, onde a biodiversidade, incluindo as pescas, devem ser uma aposta clara e estratégica. E os fundos marinhos representam, também, pela sua enorme riqueza objetiva uma aposta estratégica nacional. Desde logo, pela “fronteira” marítima com a América do Norte tornando as águas portuguesas uma zona privilegiada de interação marítima, incluindo o controlo das comunicações digitais (por exemplo a internet) que utilizam os fundos marítimos como teatro privilegiado.
Como olhar então o mar nos próximos anos? Como um elemento nuclear ao nosso desenvolvimento coletivo, e em diferentes domínios.
No plano das infraestruturas portuárias e de criação de plataformas estratégicas é fundamental que o plano de recuperação nacional para os próximos anos olhe de forma inovadora para a sua importância futura. Infraestruturas portuárias que coloquem Portugal na vanguarda das exportações e que mereçam um apoio substancial das instituições europeias. No domínio do turismo importa ampliar e modernizar os terminais de cruzeiro para maximizar o transporte de passageiros colocando o nosso país como um dos líderes europeus na matéria. Adaptar os portos e respetivos terminais a diferentes tipologias de navios, assim como aumentar o número de escalas efetuadas será uma aposta certa quando o afluxo de turistas aumentar após a pandemia.
Intimamente associada, a criação e desenvolvimento de plataformas logísticas que combinem diferentes eixos de transporte (portuário, aeroportuário, rodoviário, ferroviário, etc.) de uma forma coordenada e estruturada permitirá minimizar o impacto da periferia geográfica em que Portugal se encontra.
Também no âmbito da política energética o mar, e a plataforma continental subjacente, pode representar não apenas uma fonte inesgotável de recursos (por exemplo energia eólica), mas é seguramente também o elo de ligação (marítima) entre diferentes blocos económicos e, portanto, o espaço privilegiado para trocas comerciais neste domínio. Desde logo o Porto de Sines, um dos maiores e melhores portos de águas profundas da Europa, será uma porta única para a entrada de petróleo ou de gás provenientes dos grandes produtores mundiais.
Mas, é também na ótica de uma moderna e desenvolvida investigação em ciência e tecnologia que o mar pode ser uma aposta certa. Na investigação científica o mar dispõe de recursos inesgotáveis quer para as ciências básicas quer para as ciências aplicadas, nomeadamente as relacionadas com a exploração dos fundos marinhos. Pelo que é porventura necessário apostar em parcerias estratégicas neste domínio com os nossos parceiros Europeus e, eventualmente, com outros potenciais interessados.
Esta união virtuosa entre modernização de infraestruturas portuárias, incluindo terminais de cruzeiros, estímulo ao desenvolvimento industrial, e aposta no turismo é bem patente nos Portos do Douro, Leixões e de Viana do Castelo que tive a oportunidade de administrar nos últimos anos. De facto, a expansão dos terminais, uma aposta clara na via navegável do Douro – promovendo esta fantástica região vinícola à escala internacional –, assim como a parceria com centros de investigação científica de excelência sobre o mar, nas suas múltiplas dimensões, denota bem a importância fundamental que estes portos representam, não apenas a nível do noroeste peninsular mas, mesmo, a uma escala europeia.
Pelo que o mar e a economia do mar são estratégicos para o desenvolvimento nacional, desde logo tratando-se de uma economia ecologicamente responsável para fazer face às alterações climáticas que tanto preocupam a humanidade.
Autor: Prof. Dra. Guilhermina Rego
Professora Universitária – Universidade do Porto